📰 Últimas notícias
O cinismo corporativo

O cinismo corporativo

Publicidade

O cinismo corporativo: Boeing assume a culpa e as rédeas por graves problemas em aeronaves

As cenas de um acidente aéreo envolvendo uma aeronave Boeing nos Estados Unidos viralizaram nas redes sociais e ganharam destaque ao redor do mundo. Essas imagens, que parecem saídas de filmes de ação, se tornaram aterrorizantes por terem acontecido na vida real. O acidente despertou a atenção dos internautas e as buscas pelo termo "Boeing" no Google atingiram o terceiro pico da história, superando até mesmo o burburinho causado por outros acidentes envolvendo a mesma empresa.

Desde o dia do acidente, as ações da Boeing despencaram mais de 12% na Bolsa de Nova York (NYSE), mostrando um claro impacto financeiro para a empresa. Esse cenário já foi observado anteriormente, quando outro avião da empresa caiu na Etiópia em março de 2019, resultando na morte de 157 ocupantes, e em outubro de 2018, quando um acidente matou 188 pessoas na Indonésia. Em todos esses casos, o modelo envolvido era um Boeing 737 Max.

No entanto, algo que tem chamado a atenção de forma positiva no recente acidente é a postura da Boeing. Diferentemente dos eventos anteriores, em que a empresa se envolveu em um jogo de empurra-empurra em relação aos responsáveis, dessa vez a Boeing prontamente assumiu a culpa publicamente. O atual CEO da empresa, David Calhoun, assegurou que a empresa reconhece sua responsabilidade e que a investigação sobre as falhas nas aeronaves será conduzida com total transparência em cada etapa do processo.

Essa mudança na postura da empresa é significativa, especialmente considerando o histórico de falta de transparência e de transferência de culpa nos acidentes anteriores. Quando assumiu o cargo de CEO, Calhoun chegou a insinuar que a culpa pelas mortes nos acidentes na África e na Ásia também seria dos pilotos, alegando que eles não eram "tão experientes" quanto os dos EUA. O tempo e a pressão pública fizeram com que ele adotasse uma abordagem mais responsável e reconhecesse o erro.

Embora seja mínimo o esperado que uma empresa assuma a culpa por seus erros, estamos tão acostumados ao cinismo corporativo que esse gesto se torna um exemplo a ser seguido. No Brasil, temos presenciado casos de grandes empresas que negam responsabilidades ou utilizam eufemismos para escapar de suas obrigações. Um exemplo é a Braskem, que enfrenta acusações relacionadas ao afundamento de solo decorrente de sua atividade de mineração. Já a concessionária de energia Light, no Rio de Janeiro, tem deixado investidores na incerteza ao alegar problemas financeiros decorrentes de furtos de energia.

Exigir transparência das empresas que buscam atrair investidores não é apenas uma questão de bom senso, mas também é uma obrigação legal para as companhias abertas. Além disso, é um importante indicador de um mercado mais sólido e sério. Ver uma empresa do porte da Boeing assumir a culpa e tomar medidas concretas para resolver o problema é um sinal encorajador para aqueles que buscam investir em empresas com boas práticas de accountability.

É necessário que mais empresas sigam esse exemplo e abandonem o cinismo corporativo, assumindo suas responsabilidades e tomando as medidas necessárias para reparar os danos causados. Somente assim teremos um cenário mais confiável e transparente para os investidores individuais no Brasil, que merecem saber em quem estão depositando seu dinheiro e confiança.

Publicidade
Publicidade
🡡