Cenário positivo para o agro brasileiro, mas desafios na produção de aves e suínos

Após um alívio nos custos de produção de aves e suínos devido à queda das cotações dos grãos em 2023, a indústria brasileira enfrenta um novo desafio para equilibrar suas contas. O clima mais adverso do que o previsto atrasou o plantio de soja no Centro-Oeste, o que provavelmente afetará a safrinha de milho. Isso pode resultar em aumentos nos preços das rações e diminuição da rentabilidade dos frigoríficos. As previsões meteorológicas para dezembro são fundamentais, pois a falta de chuvas nesse mês pode agravar ainda mais a situação.

No entanto, apesar desses desafios, as principais cadeias do agro brasileiro têm um horizonte geralmente positivo para o próximo ano. Os agricultores conseguiram lidar com os preços dos grãos entre o plantio e a colheita da safra de 2022/23, aproveitando a rentabilidade dos ciclos anteriores. Embora tenha havido uma redução nas vendas de máquinas e implementos, não há problemas significativos de inadimplência no crédito.

Expectativas para a produção de soja e milho

Apesar do atraso no plantio de soja devido ao clima adverso, o Itaú BBA não prevê uma quebra expressiva na safra. A produção brasileira de soja deverá alcançar 158 milhões de toneladas, um volume recorde de 2% a mais do que o ciclo anterior. As exportações devem somar 100 milhões de toneladas, também com um aumento de 2%. Os estoques finais poderão recuar 5% para 5 milhões de toneladas.

Em relação ao milho, o cenário é desafiador. Com os problemas climáticos no Centro-Oeste, a safrinha de milho em 2023/24 deverá ser de 93 milhões de toneladas, 10% menor do que no ciclo anterior. Isso pode causar problemas no mercado brasileiro, já que o milho é cada vez mais disputado por criadores de aves, suínos e usinas de etanol. Diante desse contexto, as cotações domésticas do milho devem subir.

Impactos para a indústria de aves e suínos

Se os preços do milho realmente aumentarem no Brasil, como indicam as expectativas, as empresas de aves e suínos enfrentarão preocupações com os custos de produção. Apesar do crescimento da economia brasileira, repassar esses custos para os preços no varejo é sempre um desafio. Os limites para esse repasse podem ser testados em 2024.

No caso da cadeia de carne bovina, a oferta de gado deve continuar firme, mantendo os preços do boi sob controle e beneficiando as margens dos frigoríficos pelo segundo ano consecutivo. No entanto, os preços da carne continuam baixos no exterior, especialmente na China, principal destino das exportações brasileiras. É importante ressaltar que o mercado de proteínas animais está se recuperando dos últimos anos de pressão.

Outros setores do agro brasileiro

No setor de algodão, o Brasil poderá se tornar o terceiro maior exportador mundial em 2023/24, ultrapassando os Estados Unidos. Embora a produção brasileira possa cair ligeiramente, as vendas ao exterior devem aumentar cerca de 50%.

Já no setor de arroz, o clima desfavorável está atrapalhando a semeadura no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, atrasando o ciclo e reduzindo o potencial de produtividade. Isso ocorre em um momento em que as exportações estão em alta e os preços internacionais estão em níveis recordes.

Por fim, no segmento sucroalcooleiro, a produção de açúcar deve seguir alta em 2024 devido à safra internacional com déficit e bons resultados no cultivo de cana no Centro-Sul do Brasil. O etanol, por sua vez, está com menor demanda e remunera menos as usinas, mas a expectativa é de que a demanda se mantenha elevada na próxima temporada, reduzindo a diferença em relação ao açúcar.

Em resumo, o cenário para o agro brasileiro é geralmente positivo, mas a queda na produção de milho gera preocupações. Os desafios se concentram na indústria de aves e suínos, que enfrentam potenciais aumentos nos custos de produção. Acompanhar as previsões meteorológicas e as variações dos preços dos grãos é essencial para os investidores e atores do mercado financeiro que desejam tomar decisões informadas sobre o setor agrícola brasileiro.