
Bolsa de créditos de carbono no Brasil já nasce sob desconfiança do mercado
11/09/2023Bolsa de créditos de carbono no Brasil já nasce sob desconfiança do mercado
Uma plataforma automatizada de créditos de carbono, chamada B4, está prestes a ser lançada no Brasil e já acumula uma série de críticas do mercado. A B4 se autodenomina uma "bolsa" e promete hospedar títulos de crédito de carbono em tokens, permitindo o acompanhamento de todas as transações envolvendo esse ativo. Segundo a empresa, esse processo evitará a duplicidade da venda de um mesmo crédito e realizará uma análise dos registros antes de aprová-los na plataforma.
No entanto, é justamente essa análise dos registros que tem causado preocupação no mercado. Atualmente, apenas algumas certificadoras têm o papel de validar créditos de carbono no país. Empresas atuantes nesse mercado afirmam que o processo de validação dessas certificadoras já é confiável e questionam a iniciativa da B4 de querer analisar os registros dos títulos. A Aliança Brasil NBS, que representa mais de 70% dos créditos emitidos no país desde o ano passado, afirma que os fundadores da B4 não possuem histórico ou entendimento do mercado de crédito de carbono.
A B4 foi fundada por Odair Rodrigues, que alega ter trabalhado em consultorias desde os 18 anos. Ele afirma ter participado de dois projetos voltados para créditos de carbono em sua incubadora, a Starten. Além disso, a empresa tem Mozart Fernandes como sócio, especialista em design e marketing. No entanto, ambos não possuem experiência ou ligação com empresas do setor ambiental, o que tem gerado desconfiança.
A B4 pretende funcionar como uma exchange tradicional, permitindo que qualquer pessoa possa comprar e vender créditos de carbono. Até o momento, a empresa já recebeu 300 pedidos de empresas interessadas em listar seus créditos na plataforma, e 30 também demonstraram interesse em comprar. A empresa ainda não possui registro para atuar no mercado de capitais, segundo a CVM.
A criação de um mercado secundário de carbono a partir da plataforma também tem sido apontada como um problema. Isso poderia possibilitar a compra de créditos por investidores interessados na sua valorização, não apenas por empresas que desejam compensar a emissão de carbono. Essa prática poderia gerar fraudes e trouxe preocupações, principalmente em relação à falta de interligação das informações entre a plataforma da B4 e as certificadoras existentes.
Apesar das críticas e desconfianças do mercado, a B4 tem atraído atenção. Especialistas acreditam que a empresa pode ter interesse no mercado regulado que será criado no Brasil no futuro. O governo deverá escolher uma ou duas plataformas para a venda de créditos de carbono, o que poderia beneficiar a B4, caso ela se estabeleça como uma opção confiável.
Em suma, a bolsa de créditos de carbono B4 no Brasil está sendo alvo de críticas e desconfianças por parte do mercado. As preocupações estão relacionadas à análise dos registros dos títulos pela plataforma, possíveis fraudes com a criação de um mercado secundário de carbono e a falta de experiência dos fundadores da B4 no setor. No entanto, a empresa já recebeu uma demanda significativa de empresas interessadas e pode ter uma posição vantajosa quando o mercado regulado for estabelecido no país.
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