Bancos dos EUA detêm US$ 1,2 tri em depósitos intermediados com risco de se moverem rápido
16/09/2023Bancos dos EUA detêm US$ 1,2 tri em depósitos intermediados com risco de se moverem rápido
No meio do ano, o Zions Bancorp informou deter US$ 8,5 bilhões em depósitos intermediados (brokered deposits), um produto obscuro, mas dispendioso do setor bancário e que está atraindo a atenção dos reguladores. Na mesma época de 2022, o banco com sede em Salt Lake City praticamente não detinha nenhum desse tipo de depósito.
Muitos participantes do setor bancário consideram os depósitos intermediados como uma faca de dois gumes. Eles podem ser uma maneira rápida e fácil de um banco reforçar seu balanço. Os depósitos são normalmente muito mais caros porque as instituições bancárias têm de pagar taxas de juro mais elevadas para atrair esses clientes, juntamente com outras tarifas. Os reguladores e os banqueiros dizem que são também um tipo de capital que pode se mover rapidamente, o chamado “hot money”, e que tende a desaparecer quando um banco passa por uma fase difícil, uma vez que estes clientes que procuram rendimentos maiores não tendem a ser leais.
Os bancos dos EUA possuíam conjuntamente mais de US$ 1,2 trilhão em depósitos intermediados no segundo trimestre, de acordo com uma análise do Wall Street Journal com base em dados da Federal Deposit Insurance Corp (FDIC). O total representou um aumento de 86% em relação ao ano anterior.
Depósitos intermediados: uma estratégia arriscada
Os depósitos intermediados são o que parecem: um banco pode recorrer a um corretor terceirizado, como Morgan Stanley ou Fidelity, para encontrar clientes para investir nos certificados de depósito de alto rendimento do banco. Isso permite que o banco receba grandes influxos de dinheiro de uma só vez, ao invés de cliente por cliente.
Muitos bancos acumularam depósitos intermediados, um sinal da tensão que continua a afligir muitas instituições que agora têm de competir por fundos de clientes que durante muito tempo consideraram garantidos.
Os depósitos intermediados quase duplicaram na Citizens Financial e na Ally Financial no segundo trimestre, em comparação com o ano anterior. Eles subiram ainda mais acentuadamente no M&T Bank, KeyCorp e Comerica. O Bank of America, o Wells Fargo e outros grandes bancos também atraíram mais desses depósitos.
Os instrumentos intermediados continuaram a representar uma porcentagem relativamente pequena do total de depósitos destes bancos. Mas em alguns bancos regionais menores, como o Associated Banc-Corp e o Valley National Bancorp, os depósitos intermediados representavam mais de 10% dos depósitos nacionais, um nível que pode deixar os reguladores cautelosos. O FDIC pode cobrar taxas de seguro mais elevadas de bancos que tenham elevadas concentrações de depósitos intermediados.
Impactos no mercado financeiro e para investidores individuais no Brasil
Com o aumento dos depósitos intermediados nos bancos americanos, é importante que os investidores brasileiros estejam atentos às consequências disso no mercado financeiro e nos seus próprios investimentos.
No curto prazo, é possível que os bancos aumentem as taxas de juros para atrair clientes e manter esses depósitos intermediados em seus balanços. Isso pode afetar as margens dos bancos e, consequentemente, influenciar os preços das ações dessas instituições.
Além disso, é preciso estar atento ao risco de liquidez desses depósitos. Como mencionado anteriormente, eles são considerados "hot money" e tendem a se mover rapidamente. Em momentos de dificuldades financeiras, esses depósitos podem desaparecer, o que pode impactar negativamente a saúde financeira dos bancos.
Para os investidores individuais no Brasil, é importante avaliar se possuem investimentos em bancos americanos que possuem altas concentrações de depósitos intermediados. Esses bancos podem estar sujeitos a cobranças de taxas de seguro mais elevadas, o que pode ter um impacto indireto nas operações e nos resultados financeiros dessas instituições.
Em resumo, os depósitos intermediados nos bancos americanos representam um risco potencial para o sistema financeiro e para os investidores individuais. É essencial que os investidores brasileiros estejam atentos a essas tendências e considerem os possíveis impactos em suas estratégias de investimento.